Câmara Municipal recebe legado de Julio / Saul Dias

Foi assinado na passada sexta-feira, pela Presidente da Câmara e pelo Dr. Romeu Cunha Reis, o protoloco de entrega do legado Julio / Saúl Dias ao Município de Vila do Conde, ato que se reveste de enorme importância para o panorama cultural local e nacional. Com a receção deste legado Vila do Conde assegura a posse, para os vilacondenses e para todos os interessados, de um conjunto artístico de enorme valor, produzido ao longo da vida por um filho desta terra e figura incontornável na história da arte do século XX.

Com o falecimento, a 18 de dezembro de 2012 do Eng. José Alberto Reis Pereira, filho de Julio / Saul Dias, tornou-se público o seu testamento, no qual lega ao município de Vila do Conde parte substancial do espólio artístico de Julio, seu pai, desde que cumpridas certas condições. Caso as condições não fossem cumpridas o referido legado seria sucessivamente conferido a outras instituições nele nomeadas até que o testamenteiro – Dr. Romeu Cunha Reis – encontrasse quem se dispusesse aceita-lo nas condições referidas.

O legado agora recebido pelo Município é composto por óleos, desenhos, pratos ratinhos, assim como as bibliotecas de Saul Dias e do Eng. Reis Pereira, seu filho, revestindo-se de enorme importância para Vila do Conde, para os vilacondenses, para os admiradores de arte e literatura e para os seus estudiosos e investigadores.
Julio Maria dos Reis Pereira nasceu em 1902, em Vila do Conde. Desde jovem demonstrou uma enorme apetência para a cultura; formado em engenharia da pela Faculdade de Ciências do Porto, frequentou também a Escola de Belas-Artes.
Em 1936 começa a trabalhar na Direção dos Edifícios e Monumentos Nacionais de Coimbra instalando-se em Évora no ano seguinte, cidade onde vive e trabalha durante mais de três décadas e meia até 1972, ano em que regressa a Vila do Conde e onde viria a falecer em 1983, com 81 anos.

Ao longo da sua carreira, enquanto pintor, irá experimentar diferentes tendências, com uma série de desenhos surrealistas e pinturas abstratas que constituem um momento particular no interior da sua obra. Segundo Bernardo Pinto de Almeida, um dos maiores estudiosos da obra de Julio, no seu percurso intimista, o artista “ soube realizar – o poeta e o pintor, pois que nele se confundiram – uma das mais fecundas e exaltantes obras portuguesas do século XX”, o que faz com que esteja representado em importantes coleções públicas e particulares, como Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação de Serralves, Fundação Cupertino Miranda, Fundação Mário Soares, Fundação Millennium, a título de exemplo.